Terra: planeta água?
Tempos atrás me deparei com uma frase que achei forte: “o povo tem preguiça de ler até o próprio nome”. De início, achei um exagero mas observando um pouco melhor; como em todo ditado, a verdade aflora do lamaçal. Também já ouvi a pérola: “vou esperar o texto virar filme”.
Como não adianta remar contra a correnteza, o negócio é se adaptar e alinhar as velas ao vento reinante. Satisfazendo os acomodados de plantão, vamos partir pro áudio ou vídeo, geralmente tocado em speed 1,5 ou 2x. Não que a capacidade de compreensão esteja mais desenvolvida, é que tudo (tudo mesmo) tem que ser rápido e superficial. Assim sendo, essa balela de mergulhar num assunto (ir até o fundo do poço) já era … a profundidade não passa da canela.
Por conta desta toada do momento, lancei-me a explorar o tal do podcast. Foi boa a experiência, vindo a descobrir algumas ferramentas interessantes, das quais destaco: Audacity, Anchor (Spotify) e Narakeet. Também destaco a voz melodiosa e contextualizada da minha amada, insuperável por quaisquer máquinas (…óh que tentei emplacar uma locutora robô mas ninguém merece).
Bem … a Terra é planeta água se analisarmos só a superfície, considerando o todo pode haver surpresa. Até lá, vamos no escalda-pés que é mais garantido que ninguém se afoga.
- Roteiro por áudio: “Cantinho do Pensamento!”
- Fundo sonoro: “Terra planeta água” de Guilherme Arantes
O título deste podcast – “Cantinho do Pensamento” para os pais – foi para deixá-los curiosos … o que será que o Nuova Vita Condomínio Clube está aprontando?
Como você está aqui … a provocação … deu certo!!!
Se me permite, gostaria de fazer-lhe companhia por uma série de cinco cartazes. Eles tem por objetivo procurar explicar a sistemática de cobrança da conta d’água do condomínio.
Eu lhe garanto … serei breve e prática … direta ao ponto!
Então vamos lá!
[1º ato]: O primeiro cartaz é informativo! Apresenta uma lei municipal que trata das tarifas de água e esgoto … tem também a tabela de preço praticada pelo SAMAE, conforme o período de vencimento (01/04/2022 a 31/03/2023 – 01/04/2023 a 31/03/2024 – 01/04/2024 a 31/03/2025) … há prospectos dos modelos de medidores de água (coletivo e individuais [*]) instalados no condomínio … e tem até a foto de um “pobre coitado” sorridente no escafandro (in loco).
As informações mais relevantes estão destacadas com marcação de caneta fluorescente.
Se eu fosse você … dava um pause no áudio para pegar folego e ler os pontos destacados, mas já vou dar um spoiler: … em primeiro de abril … lamento informar que a tarifa d’água acabou de sofrer correção monetária de 5,79% … sério, não é pegadinha!
Fique à vontade, aproveite o cartaz e não me importo se você demorar um pouquinho mais … contanto que volte comigo no play, tá?!
[2º ato]: Chegamos no segundo cartaz … estamos indo bem e não se assuste com a montoeira de faturas… não são exclusivamente suas, são nossas contas coletivas.
Tratam-se das faturas de 2022, cuja finalidade foi analisar o CONSUMO CONJUNTO de água potável do condomínio.
Gente, na ocupação máxima, somos 400 famílias … observando a fatura do mês de outubro de 2022 (com contorno vermelho), consumimos em conjunto 6.000 m³ … é muita água, não acha?!
Para facilitar a percepção do volume d’água … é como se tivéssemos consumindo – em conjunto – uma caixa d’água do tamanho da nossa piscina grande por dia, que comporta 200m³ ou 200.000 litros. Façamos a conta juntos … 200m³ – por dia – vezes 30 (dias do mês) dá … 6.000 m³.
É claro … a água da piscina não é potável, citamos apenas para fins de comparação volumétrica. Cada torre (Felicitá … Benessere … Armonia … e Allegria) dispõe de uma caixa bipartida – no Subsolo 3 – que comporta no máximo 100 m3, para cada torre.
Outro ponto interessante, é saber que a água sobe aos andares, por obra e mérito, de 4 bombas por torre que trabalham de forma ininterrupta (24 por 7). Tá, de madrugada até tem um pause no bombeio, mas as bombas estão ligadíssimas!
Por favor, sugiro dar um stop, ler o QR-code e dar uma volta ao redor da piscina de 25 metros (nossa 200m³, quanta água) … depois, vamos adiante!
[3º ato]: Caso no passo anterior tenhamos despertado sua curiosidade sobre o código QR, você conheceu o simulador SAMAE, que é uma mão na roda e encurta o caminho para chegar ao valor total da conta d’água, que é composto de duas partes: (i) consumo de água; e (ii) esgoto. Além do Simulador, há como alternativa a consulta a Tabela de Valores para Água e Esgoto.
Mas, se ainda não visitou o Simulador SAMAE, não se faça de rogado e mire com o celular.
No site surgirá um formulário para preencher:
(i) data de vencimento – o sistema coloca automaticamente a data atual;
(ii) Categoria: selecione Residencial;
(iii) Tipo de Rede de Esgoto: selecione Faixa de Transição;
(iv) Número de Economias: coloque número 1;
(v) Consumo do mês (m³): preencha número 16 (mero exemplo);
(vi) Desconto: escolha Sem Desconto; e
(vii) por fim: clique no botão <Consultar>.
Ufa … mais mastigado … impossível! Um cuidado especial deve ser tomado ao pesquisar contas anteriores, preencha a data correta para que o sistema adote nos cálculos as tarifas correspondentes ao período. ATENÇÃO, as tarifas são atualizadas anualmente.
[4º ato]: Para os que chegaram tão longe (quarto slide) … agora daremos um “salto triplo carpado invertido” para encerrar em grande estilo (nossa … até a música foi interrompida … deve ser sério!). Voltando … entender a progressão dos valores das tarifas, conforme o quantitativo de volume consumido, e também a sistemática de cálculo de esgotamento sanitário não é tarefa trivial. Vamos elevar o sarrafo de 5 em 5 metros cúbicos. Existe a Tarifa Mínima, que corresponde aos primeiros 5m³ – consumidos ou não – ao qual se paga o valor de 5 vezes o Preço Básico do m³ (que é de 6,70 [**]), multiplicando (5×6,70) fica igual R$ 33,50. Os próximos 5m³ (faixa de 6 a 10) a tarifa é R$ 7,67; sendo (5 x 7,67 = 38,35). Na faixa de 11 a 15 a tarifa é de R$ 9,21. A faixa de 16 a 20 a tarifa passa a ser de 14,48 … e assim vai num crescente: 19,02; 19,81; 21,30; e 24,79 (esta última tarifa – mais de 100 m³ – melhor nem aparecer no cartaz). Só um pouquinho para eu tomar um copo d’água … para o cálculo de esgoto faça um “control+c” e “control+v” – e cole a fórmula [***] na cara dura. Agora entendi o desafio do “triplo carpado” … todo mundo inteiro até aqui?
Vou passar uma mensagem do SAMAE : “A água é um recurso natural, bem de uso comum do povo, e por isso não deve ser vendida. A taxa paga ao SAMAE é referente aos custos do processo de tratamento, tanto da água como do esgoto”.
[5º ato]: Bom … chegamos no gran finale. Precisamos de suas sugestões, dúvidas e críticas construtivas para melhorarmos constantemente. Manda ver nos post-it, deixe sua ideia ou observação. Não temos como fugir daquela cartilha que todo mundo conhece de cor e salteado: (i) feche a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba; (ii) evite banhos demorados; (iii) use a máquina de lavar roupas na capacidade máxima; e (iv) não utilize o vaso sanitário como lixeira e se a válvula estiver desregulada é uma bebericação de água. Se liga, descarga consome muita água. Não use à toa.
Por fim, fique atento aos vazamentos em pias, chuveiros, vasos sanitários e canos. Quer uma dica … ocasionalmente, tire uma foto do seu medidor ao sair de casa (com a casa tapera) … na volta depois de umas três horas ou mais tire outra foto e as compare. Se os números mudarem, pode ser interessante a revisão de um hidráulico. Seu bolso agradece!
Não desperdice água, pratique o consumo consciente … alguns hábitos podem fazer toda a diferença!
Moral da história … conforme o aumento do volume de consumo individual em metros cúbicos [****], se incide – PROGRESSIVAMENTE – nas faixas tarifárias mais altas.
Este podcast “Cantinho do Pensamento” integra o evento Circuito D’água, a ser realizado no dia 15 de abril de 2023, às 09:30 hs. Tragam as crianças para participar!
Condomínio Nuova Vita – no Cristo Redentor – em Caxias do Sul … obrigada pelo seu tempo e atenção! Até lá …
[*] (i) medidor ultrassônico coletivo Arad Octave Ultrasonic 4″ – DN 100 (Q3 100m³/h); e (ii) hidrômetro unijato Elster 1/2″ – S120 – VI (QN 1,5 m³/h).
[**] Fonte dos dados: DECRETO Nº 22.422, DE 15 DE FEVEREIRO DE 2023. ATENÇÃO, as tarifas são atualizadas anualmente.
[***] Y = SE(X<7);(5*0,6)*PB;ARREDONDAR.PARA.BAIXO(0,8*X;0)*0,6*PB … Onde: Y (valor a ser pago pelo esgoto); X (consumo m³); PB (Preço Básico); constante 0,6 (refere-se ao tipo de rede de esgoto: Faixa de Transição); e “ARREDONDAR.PARA.BAIXO(0,8*X;0)” (artifício matemático que é melhor só tentar explicar pessoalmente). 🙄 Tem gente boa por aí que não entendeu a fórmula e propaga informação equivocada.
[****] De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa necessita cerca de 110 litros de água por dia para atender as suas necessidades básicas de consumo e higiene. No Brasil, o consumo por pessoa pode chegar a mais de 200 litros/dia. Em Caxias do Sul são 117 litros por dia (média) que corresponde a 3,5 m³/mês (por pessoa).
“Os fatos são sonoros mas entre os fatos há um sussurro. É o sussurro que me impressiona.”
- Clarice Lispector
Preciso guardar este maceteiro do interfone – sempre esqueço – em algum canto. Serve para quando não dá tempo de chegar para atender o interfone e, assim, torna-se possível retornar a ligação ao originador da chamada.
“7.9 – PEGA TROTE VIA MENSAGEM DE VOZ
A central informa através de uma mensagem de voz pausadamente o último número que ligou para o ramal, se não existir será enviado a mensagem “não existe”.
Somente as ligações internas serão identificadas.
COMO USAR:
Retire o telefone do gancho, aguarde o tom de linha e disque o comando abaixo …
#10 e aguarde a mensagem de voz.
Se ouvir a mensagem “número errado” o comando não foi aceito ou não há registro de ligação recente.”
“Quantas vezes já não presenciamos discussões acaloradas e sem sentido entre duas ou mais criaturas? O que enxergamos nesse momento, se não uma disputa por palco, holofotes e medição de forças entre um suposto certo e errado? Sendo menos relevante os reais propósito e impacto em prol do coletivo.” Fonte: Reflexões & Conexões
Permitam-me listar as variáveis “imensuráveis” que tornam este processo complexo: (i) inadimplência; (ii) não medição do consumo de água das áreas comuns; (iii) falta de sincronismo entre as medidas do SAMAE (relógio externo) e do condomínio nos relógios internos (problema que seria atacado com emprego da telemetria e outros minimizados – prévia detecção de vazamentos); e (iv) aspectos culturais arraigados (egos e vaidades). Menos protecionismo direcional e mais espírito coletivo. O avanço e a transparência se dão em tornar o imensurável, pelo menos, parametrizável.
Sim … há aqueles que vão se fixar nos 15% e alegar que o condomínio não deve ter lucratividade. Esta argumentação às avessas, remete-me a doceira dona Lurdes que precisou da ajuda do SEBRAE para elaborar uma planilha de custos e não levar tufo na venda dos docinhos. Nossa água não sobe por ação divina; pois temos: 16 bombas que requerem manutenção acurada; custo energético no processo que é ignorado; e limpeza sistemática das caixas d’água. Nada mais adequado que o próprio serviço prestado (abastecimento de água) se autossustentar.
Bem, fiz minha parte, não me omiti e apresentei as considerações que julguei pertinentes mas – como não sou de ficar sussurrando – tenho que vilipendiar sarcasticamente: “A burrice é diferente da ignorância. A ignorância é o desconhecimento dos fatos e das possibilidades. A burrice é uma dádiva da natureza humana”.
Deixando um rastro da minha digital nesta história de cobrança da conta d’água. Penso que qualquer “invenção” diferente ao estipulado para cobrança d’água no município de Caxias do Sul seja impróprio. Estabelecer um teto tarifário – baseado na leitura do relógio coletivo – trata-se de uma medida de estímulo ao consumo irresponsável; já que beneficia, exclusivamente, os gulões de água com uma tarifa a menor. Não sei e não cabe neste escopo questionar o estudo que redundou na estrutura tarifária progressiva, porém é óbvio concluir que a razão das tarifas excedentes serem escorchantes (realmente são) nas faixas mais altas é inibir o abuso, propositalmente fazendo doer o bolso (mecanismo de freio mais eficaz existente).
Na verdade a questão é escolher: (i) previsível faturamento a maior (em média 15%) pelo condomínio, a ser revertido em prol de todos (por exemplo, aproveitar o recurso para implantar um sistema de telemetria para efetuar automaticamente as medições); ou (ii) “subsidiar”, na real, ser generoso com os vorazes consumidores de água, cuja prática de esbanjar estaria sendo encorajada. Em tempos que só se fala de ESG (considerando o aspecto ambiental, social e de gestão) estaríamos seguindo na contramão ao fazer a escolha equivocada.
“Sincerão” e SIMPLES assim: “quer pagar menos, consuma menos!” Mas … é 1 (uma) opinião dentre 400.