Elasticidade total
Acabou de rolar as eleições municipais 2024 para prefeitos e vereadores (1º turno) em 5.569 municípios do Brasil. A estimativa era de sermos 155 milhões de eleitores(as) para votarem nas 571.024 urnas eletrônicas espalhadas por este país continental; apesar disto, o único senão cabível de registro negativo foi a abstinência de 21,71%. A apuração … que bela apuração em tempo recorde e digna de orgulho nacional. Sem a necessidade da baixaria de contar e recontar – cédula por cédula de votação [1]– em plena era tecnológica.
Com certeza, os detratores de outrora do processo eleitoral brasileiro devem ter se escalado como voluntários para atuar como mesários(as) e, assim, acompanharem de perto todo o processo e dirimirem quaisquer dúvidas. Sendo assim, estes nossos valorosos “patriotas” [2] não tiveram motivo de se pronunciar sobre falta de lisura das urnas.
Quanto ao cenário político, as mesmas imundícies de sempre. No entanto, corroborando com os novos tempos o vale-tudo das redes sociais correu solto e bem apimentado. As campanhas rádio/TV foram paupérrimas e deploráveis quanto ao conteúdo, mas tudo bem já que ninguém assiste mesmo. Já os noticiários jornalísticos encharcados de parcialidade, cabendo ao povo normalizar. Olha … diria tarefa dificílima ou missão impossível, mas somos brasileiros.
A “coisa” não foi difícil só pro povo não, até os manda-chuvas da polarização (Bolsonaro e Lula) resolveram se mostrar cândidos em assumir seus pupilos partidários. Veladamente, expressaram: “vejam bem, apoio ‘fulano’ mas não coloco minha mão no fogo. Cê que sabe!” Mesmo porque, em especial na capital de SP, surgiu um outsider (Curinga) desequilibando o jogo e chamando pra si os holofotes, por criar jogadas inescrupulosas ou saídas ao estilo Leão da Montanha, correndo do perigo numa ambulância, pela direita.
Diante das ilicitudes no ringue pudemos apreciar de tudo na arquibancada. Desde a euforia da galera por não figurarem na arena as mesmas cartas marcadas de sempre, até golpes abaixo da cintura levando alguns ao regozijo máximo. No entanto, o que mais me impressionou foi … o quanto está se tornando elástica a Moral e a Ética para acomodar a cegueira ideológica. Esquerda ou direita, a carapuça está disponível.
Registro de provocações nas entrelinhas, mordiscando bem miudinho pra ninguém se zangar:
- [1]
- Caso insistam … para aqueles que acreditam que o voto não pode ser auditado, basta acessar este link e inserir sua cidade, zona e seção eleitoral para verificar, de forma detalhada, os votos registrados em sua seção e conferir o total de votos para cada candidato. Sou capaz de apostar que não se darão a este trabalho.
- [2]
- Dizer ser patriota é fácil, quero ver fazê-lo. De certo, os mesários(as) são excelentes exemplos verde-amarelos e merecem toda nossa admiração. Pelo menos, a minha admiração.
“Mas você sabe o que é caviar? Nunca vi, nem comi. Eu só ouço falar.”
Esta mesmíssima frase se presta, feito uma luva, para retratar o comportamento dos eleitores brasileiros a cerca de proposta de governo, que é exigido no ato de candidatura ao cargo de gestão pública. É sério, você acha que o eleitor/leitor brasileiro se liga nisto? Parece muito … mas muito pior e mais extenso do que manual de eletrodoméstico e bula de remédio, porra!
Quer saber o que cola? O cara chegar no debate e espezinhar o adversário, a lá BBB. E quanto mais palavrão e apelido pejorativo melhor. Uma cadeirada – de leve – cai bem! Observando o quadro concluo, algo mudou desde os governos romanos na época imperial, quando se distribuía pão e circo para entreter a população com espetáculos públicos.
Modéstia à parte, em termos de circo, estamos bastante aperfeiçoados.