Desordem e Retrocesso
Juro que estou me esforçando para tomar uma postura mais otimista, crer na boa fé das pessoas. Em todas as situações, mesmo as desconcertantes, procuro contornar e acreditar que melhores momentos virão. Criar atrito é pura perda de energia; confrontar, então, é imbecilidade. Aproveitando o charme do adjetivo, vou largar uma frase que achei: “imbecilidade é uma doença incurável que dá nas costas, que todos percebem, menos o próprio doente”.
Depois de uma introdução tão polida, vamos aos fatos. A espécime humana não evolui mais num ritmo normal, ditado pela natureza; a humanidade se transforma numa velocidade alucinante alavancada pela tecnologia. É … pode parecer mais uma frase de efeito; de certo, os mais novos vão pensar ser um exagero. Pois então, um breve olhar para trás, de relance, pode favorecer a percepção.
Tá, lá vem a sessão nostalgia. Quem dera? O(A) “cabra-da-peste” tem que ser muito masoquista para dizer ter saudade de (i) preencher cheques a cada compra; (ii) da máquina de escrever; (iii) de pesquisar em enciclopédias ou nas páginas amarelas; (iv) de passar um fax e ter que confirmar o recebimento de todas as folhas; (v) esperar na fila de um orelhão com uma sacola de fichas; (vi) se conectar à Internet por linha discada; ou (vii) essa é só pros(as) mais fortes, declarar IR em formulário de papel. Pode soar distante para alguns, mas os que orbitam por meio século de existência, com certeza, usufruíram destas sete “maravilhas”.
A olhos vistos, o mundo está mudando de maneira desvairada e, de modo geral, as mudanças são para melhor no que tange a comodidade, facilidade e agilidade; na esperança de promover melhoria na qualidade de vida. Mas, sempre tem a turma do “deixa disso!”
Gente, eu não consigo botar na minha cabeça de onde vem a segurança e a confiança que passa a ser depositada numa votação, caso o cidadão saia da urna com o diabo de um papelzinho. Como aquele recibo pode ser auditado, de modo a garantir que aquele voto foi creditado para o “fulano de tal”? Opa (estou me esforçando)… façamos assim, a pessoa sai da urna com um código de barras ou QR-Code que pode ser lido por meio do aplicativo do TSE que revela (audita) o voto. É isso!? Pois então, acaba de ser oficializado o “vale cabrestão”, para ser trocado por um pão com mortadela ou uma coxinha de galinha? Se juntar cinco vales (combo-família), troca-se por uma cesta básica. Para assumir o cargo eleitoral, quem dará o maior “agrado” para alimentar a nossa triste desgraça social e moral? Não é à toa que o voto é secreto e não aberto como dantes.
Estou me puxando, vamos tentar uma saída salomônica. Não há sistema perfeito ou isento de melhorias, isto é líquido e certo! Sob a perspectiva de um observador de fora do tabuleiro, sem viés ideológico; vou ousar deixar um pitaco, apesar da minha total ignorância a respeito do sistema. É sabido que cada cidadão carrega consigo uma chave criptográfica privada no seu dedão (biometria digital) que poderia dar acesso, durante uma janela de tempo pós-apuração, numa cabine em local reservado (Cartório Eleitoral), para o próprio cidadão – aquele que for incrédulo – audite seu voto (na telinha apareceria: eu – CPF tal – votei em fulano, beltrano e ciclano no respectivo pleito). Assim, disponibilizar-se-ia a oportunidade de cruzar e constatar para quem cada voto foi computado, rechaçando-se falsas alegações de fraude. Persistindo a teima, abre-se um processo para apurar a legitimidade individual no cômputo do voto e, para casos injustificáveis de dúvida, dê-lhes pesada taxa ou multa. Talvez, uma ideia!
Agora, caso o demandado seja uma contagem voto-a-voto, por mesários, considerando cerca de 143 milhões de cédulas, num processo similar a apuração das escolas de samba; o que realmente se deseja é a desordem e o retrocesso. Em razão do montante de votos (multiplique pelos cargos em votação), a cada contagem manual será produzida uma totalização diferente e vamos cansar de esperar pelo “resultado”. Neste caso, o adjetivo destacado no primeiro parágrafo, encontra a mais absoluta propriedade e aderência. Pior, o líder desta baderna está cuspindo no prato em que sempre comeu.
Seria interessante deixarmos de lado o nosso complexo de vira-lata e passar a valorar as nossas realizações e inovações, tendo ORGULHO NACIONAL de mostrar ao mundo que temos mais do que apenas commodities e corruptos. Por último, temos que conviver com contradições, pois para falar em inteligência artificial, rádio cognitivo, assinatura digital ou computação quântica (sei lá que diabo é isso) tem representante do governo federal que estufa o peito e enche a boca (com razão); no entanto, na hora de contar com um sistema para apuração de votos… aí não, trata-se de um impropério. Senhoras e senhores estamos no Brasil, atrasem seus relógios em 30 anos.
Bolsonaro critica as urnas em reunião com embaixadores. A mesma ladainha a cerca de 70 dias das eleições, com uma diferença: “o desespero e a angústia de perdedor confesso estão se intensificando”. O “circo” está montado e prestes a lotar; caso não se dê um jeito de segurar o “porra-louca”, vai resultar em pisoteio e esculacho da democracia. Pode começar a contagem regressiva … a partir de agora, tomem seus lugares e preparem-se para fortes emoções!
(Autora: Denise Rothenburg)
A nota em que expoentes da produção, da intelectualidade e do emprego no país pregam a garantia das eleições e respeito ao resultado das urnas, em 2022, foi lida entre apoiadores de Bolsonaro como um recado tão duro quanto o de Fux. Significa que o PIB não dará respaldo ao presidente.
… lascou
Entre os empresários, há a certeza de que ministros como, por exemplo, Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura, e Tereza Cristina, da Agricultura, estão no rumo certo. Porém, a confusão que Bolsonaro tem gerado na seara política, gastando energia no voto impresso e ataques a ministros do STF, turvou o ambiente a tal ponto que os acertos do governo ficam envoltos na poeira levantada pela crise.
Kkkkkkk … sabe como é, né; temos a cultura cartorial impregnada, adoramos assinaturas, carimbos e “recibinhos”. É Deus no céu e “burrocracia” na terra. Gostaria também da volta do cartão de assinatura bancária, quão elegante era a fila para conferir e compensar um cheque. Fico no aguardo do retrocesso nacional; apesar do meu repúdio e ojeriza, tô ligando o foda-se e só me restará o desprazer de dizer: “eu te disse … eu te disse!”
Nota Pública – 02 Ago 2021
O Presidente, Vice-Presidente, futuro Presidente e todos os ex-Presidentes do Tribunal Superior Eleitoral desde a Constituição de 1988 vêm perante a sociedade brasileira afirmar o que se segue:
1. Eleições livres, seguras e limpas são da essência da democracia. No Brasil, o Congresso Nacional, por meio de legislação própria, e o Tribunal Superior Eleitoral, como organizador das eleições, conseguiram eliminar um passado de fraudes eleitorais que marcaram a história do Brasil, no Império e na República.
2. Desde 1996, quando da implantação do sistema de votação eletrônica, jamais se documentou qualquer episódio de fraude nas eleições. Nesse período, o TSE já foi presidido por 15 ministros do Supremo Tribunal Federal. Ao longo dos seus 25 anos de existência, a urna eletrônica passou por sucessivos processos de modernização e aprimoramento, contando com diversas camadas de segurança.
3. As urnas eletrônicas são auditáveis em todas as etapas do processo, antes, durante e depois das eleições. Todos os passos, da elaboração do programa à divulgação dos resultados, podem ser acompanhados pelos partidos políticos, Procuradoria-Geral da República, Ordem dos Advogados do Brasil, Polícia Federal, universidades e outros que são especialmente convidados. É importante observar, ainda, que as urnas eletrônicas não entram em rede e não são passíveis de acesso remoto, por não estarem conectadas à internet.
4. O voto impresso não é um mecanismo adequado de auditoria a se somar aos já existentes por ser menos seguro do que o voto eletrônico, em razão dos riscos decorrentes da manipulação humana e da quebra de sigilo. Muitos países que optaram por não adotar o voto puramente eletrônico tiveram experiências históricas diferentes das nossas, sem os problemas de fraude ocorridos no Brasil com o voto em papel. Em muitos outros, a existência de voto em papel não impediu as constantes alegações de fraude, como revelam episódios recentes.
5. A contagem pública manual de cerca de 150 milhões de votos significará a volta ao tempo das mesas apuradoras, cenário das fraudes generalizadas que marcaram a história do Brasil.
6. A Justiça Eleitoral, por seus representantes de ontem, de hoje e do futuro, garante à sociedade brasileira a segurança, transparência e auditabilidade do sistema. Todos os ministros, juízes e servidores que a compõem continuam comprometidos com a democracia brasileira, com integridade, dedicação e responsabilidade.
Assinam:
Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO
Ministro LUIZ EDSON FACHIN
Ministro ALEXANDRE DE MORAES
Ministra ROSA WEBER
Ministro LUIZ FUX
Ministro GILMAR MENDES
Ministro DIAS TOFFOLI
Ministra CÁRMEN LÚCIA
Ministro RICARDO LEWANDOWSKI
Ministro MARCO AURÉLIO MELLO
Ministro CARLOS AYRES BRITTO
Ministro CARLOS MÁRIO DA SILVA VELLOSO
Ministro JOSÉ PAULO SEPÚLVEDA PERTENCE
Ministro NELSON JOBIM
Ministro ILMAR GALVÃO
Ministro SYDNEY SANCHES
Ministro FRANCISCO REZEK
Ministro NÉRI DA SILVEIRA
A história do voto no Brasil – da primeira eleição ao voto secreto.
https://www.camara.leg.br/radio/programas/439742-a-historia-do-voto-no-brasil-da-primeira-eleicao-ao-voto-secreto/