Dose dupla

“Marinheiros” … bebam sem moderação!

Como entusiasta das novidades a respeito de Internet das Coisas (IoT), nada surpreendente estar por perto acompanhando algumas realizações e progressos nesta seara. E, por ironia do destino, moro num local que proliferam iniciativas voltadas à tecnologia LoRaWAN. Antes de prosseguir, uma correção semântica, já que esta tecnologia de conectividade em rede fica melhor descrita, caso dito: técnica de modulação LoRa e protocolo LoRaWAN. Carinhosamente, chamo-lhes de dose dupla … pois se não forem em dupla, a solução fica capenga.

A Trinopolo representa uma associação de empresas que atuam na área de Tecnologia da Informação e Comunicações (TIC) em Caxias do Sul. Fato é que houve uma simbiose de interesses e, de modo precursor, a cidade se viu favoravelmente “iluminada” por 3 (três) gateways LAIRD Sentrius RG191. Só que, infelizmente, escapou um detalhe. Estes equipamentos são setados para uma determinada faixa de frequência regional e adotou-se a US902-928 em detrimento da faixa AU915-928, que seria a correta de ser empregada no Brasil. Isto ocasionou um certo descrédito a incipiente tecnologia, uma vez que os dispositivos (end-devices) só funcionavam se reproduzissem o mesmo engano (operar em US902-928). O processo de reconhecer o equívoco e promover o devido ajuste foi um tanto árido e desgastante. Só declinou-se por conta da atualização TTN v3.0 (agora TTS).

Depois dessas águas passadas, surgiu um novo projeto na proa (26/01/2022 a 31/10/2024). Denominado “sistema de coleta de dados por dispositivos IoT (sensoriamento) para cidades inteligentes”, fruto de uma parceria entre SICT-RS e UCS, cuja proposta foi implantar: (i) 3 (três) dispositivos SIRROS IoT com sensores: temperatura, umidade, ruído, luminosidade, partículas suspensas, gás carbônico e posição GPS; (ii) 2 (dois) gateways KHOMP – ITG 201 LoRa Outdoor; (iii) plataforma TTN/TTS/TTI que fica escondida nos bastidores, apesar de ser o cerne da solução; e (iv) aplicativo de visualização – dashboard (TagoIO) dos dados coletados por localidade/device.

Mais uma coisa, este arranjo foi reproduzido nas seguintes cidades da serra gaúcha:

Bem, a equipe e dedicação por trás da construção deste projeto foi admirável. Alinho-me mais forte com a galera dos bastidores técnico (Mayron de Carvalho & Samuel Ferrigo) por conta da natural afinidade, os quais gostaria de provocar com uma reflexão. Conforme é do conhecimento de todos, os gateways podem ser configurados como privados [1] ou públicos [2]. Os gateways LoRaWAN são – fazendo uma analogia – como faróis de navegação, adequadamente dispostos para a melhor capacidade de cobertura. No entanto, ao serem configurados como de rede privativa, ofusca-lhes o brilho e a aplicabilidade por conta da restrição de acesso. A acessibilidade é possível ser disponibilizada para o cidadão não só divulgando os DADOS COLETADOS, mas habilitando a infraestrutura (“iluminação” [3] provida pelos gateways – SERVIÇO DE CONECTIVIDADE) para fins de testes e experimentações locais, colocando a tecnologia ao alcance de todos “marinheiros” (desbravadores de chirp signal). Talvez, possa ser que haja um instrumento náutico escondido na manga (Packet Broker); porém, sinceramente, melhor seria todas cartas numa mesa redonda (confiança e transparência).

Falando de benefícios, caso a rede seja tornada pública – comunitária e democratizada – será possível ofertar (0800) conectividade LoRaWAN para avaliações de protótipos (produtos, serviços ou modelos de negócios inovadores), sendo ideal para espaços de experimentações e aprendizagens como o Sandbox Caxias. Deixando do jeito que está … os gateways são invisíveis, destarte o mesmo consumo de recursos (investimento [Parceria: 3264], manutenção, supervisão, energia elétrica, Internet, e outros mais) para atender uns pouquíssimos gatos pingados.

Parabéns … que venham novos ensinamentos, desafios e projetos, sejam quantas canecas etílicas forem, contanto que corroborem para o desenvolvimento técnico-sócio-econômico da nossa região da serra gaúcha 🙂 .

 


Registro de provocações nas entrelinhas, mordiscando bem miudinho pra ninguém se zangar:

[1]
A adoção da plataforma como REDE PRIVATIVA, geralmente, deve-se a situações em que os dados são críticos ou com grau de confidencialidade e, portanto, pretende-se dispor da propriedade exclusiva da rede e garantir a adesão dos dispositivos mediante estrita autorização. Ou, ainda, não haver outra opção por absoluta indisponibilidade de cobertura da rede pública no local.
[2]
A REDE PÚBLICA (aberta para quaisquer dispositivos), na verdade,  subdivide-se em duas modalidades.
(i) comercial: na modalidade comercial contrata-se um plano (taxa anual, diga-se de passagem, bem em conta) para fazer uso da conectividade de rede, conforme praticado pela American Tower (ATC); e
(ii) comunitária: para se conectar a rede basta a existência de cobertura local (geralmente, provida por iniciativas voluntárias) e realização de um cadastro online. A The Things Network (TTN) é o exemplo clássico. Em compensação, não há nenhum compromisso ou garantia, tal como Acordo de Nível do Serviço (SLA) prestado. Porém, eu me questiono, se a outra modalidade de rede pública o tem.
Ops … só para esclarecer, rede pública não significa “casa da mãe Joana”, faz-se necessário cadastrar os dispositivos e dispor das respectivas chaves de autenticação.
[3]
Caso queira ter uma noção do que se trata “iluminação” LoRaWAN de uma olhadela na situação de algumas cidades da Europa e depois compare ao nosso continente.
[*]
É ilusório enxergar a solução IoT com LoRa&LoRaWAN como um oásis no deserto. Também, não é miragem dizer que alçança 2-5Km (bem “pé no chão”, em área urbana) e, caso opere na “classe A” e boa parte do tempo no modo de hibernação, pode ser alimentada por uma mera bateria ao longo de anos. Em compensação o volume de dados que é capaz de trafegar (0,3-50 kbps), mostra-se bastante acanhado para os dias atuais. Porém, por incrível que pareça, pode atender muito bem algumas demandas IoT. As questões de custo, latência e segurança também devem ser consideradas. Em suma, tudo depende dos requisitos do projeto. O payload do projeto referido neste artigo, consome 47 bytes por mensagem – CXS (intervalo 20 min; FPort 19; SF9BW125; ativação ABP ou OTAA? (DevAddr: 26 09 42 52  – 26 09 D8 10 [05], 26 09 AA F8 [06], 26 09 7E BE [11]) ;  e ops: [11] parece repetir a mesma msg 3 vezes?).

 


 


“Não dispute espaço. Amplie o espaço. Ao chegar lá, faça caber mais gente.”

4 comentários

  1. Mario Câmara em 6 de outubro de 2024 às 16:59

    Campo Conectado.
    Acima, segue link para relatório de projeto IoT voltado para propriedade rural (ambiente agrícola), desenvolvido pela PUC-RS e financiado pelo BNDES e empresas privadas.
    Este projeto faz parte do programa BNDES Pilotos IoT – Internet das Coisas.
    Chama atenção a documentação apresentada com esmero e completude, de modo a possibilitar: (i) difusão do conhecimento; (ii) replicabilidade dos experimentos; (iii) fomento tecnológico ao agronegócio; e (iv) ensinamentos advindos dos percalços.
    Indicação: Marcelo Balisteri

    Que a LUZ do farol possa iluminar e ter serventia para todos.

  2. Mario Câmara em 21 de setembro de 2024 às 08:35

    Pessoal … mais uma contribuição. Foi noticiado no G1 uma iniciativa do IFPE denominado na reportagem: “sensores medem qualidade do ar no Recife”. A quem interessar assistir ao vídeo, segue o link. Registro também a marca/modelo do sensor (IQAir/AirVisual Outdoor) que foi empregado. Infelizmente, parece que os sensores das condições do ar – da nossa solução caseira – deixam a desejar ou passam a impressão de não dispor de sensibilidade (travados: PM [20 ppb] e C02 [403 ppm]). Mas, de qualquer forma, foi dado um baita primeiro passo. Outra proposta legal seria apresentar um “gauger meter” com níveis de referência, de modo a sinalizar em que patamar se encontra a medição. Pouca gente possui familiaridade com estes parâmetros; portanto, é preciso facilitar a leitura.

    Fonte: veículado na GloboNews, em 21/09/2024 às 08:00 hs.

  3. Mario Câmara em 17 de agosto de 2024 às 22:21

    Neste espaço coloco ideias complementares e, geralmente, a indigestão é pesada; depois de ruminar um bom tanto sobre o artigo escrito. Dica de amigo: se for muito sensível ou só aceita methiolate indolor, melhor não ler.
    Posso passar a impressão de ser “cri-cri”, talvez eu seja. Mas, no fundo no fundo, sempre os comportamentos se justificam por conta de alguma experiência ou ensinamento colhido na jornada.

    No EB, é claro, conforme a área de atuação, lidar com frequências do espectro-eletromagnético é algo comum e, em consequência, é imperativo e obrigatório o respeito de operar tão somente na faixa e na potência autorizadas, de modo a não causar interferências em outros serviços essenciais. Imaginem o “papelão” da ANATEL batendo na porta de um quartel. Daí a atenção e insistência com as tais de REGION US902-928 e AU915-928, que originaram percalços e insucessos operacional por incorreção técnica. Fico pensando, se é tão difícil acatar uma regulamentação básica de frequência, quiça adquirirmos a “resiliência digital” (repelir ciberataques) que o cenário IoT nos apresenta como desafio.

    Agora sobre esta história de privado ou público, tenho algumas suposições.
    (i) Infelizmente, somos culturalmente bombardeados – no Brasil – quanto a adjetivação “público” ser algo ruim, já o que for “privado” há de ser melhor. Assim pensamos a respeito do nosso transporte público, nossa escola pública, nosso banheiro público, saúde pública, e por aí vai. Em contraponto, o banheiro do Shopping (setor privado) é um primor; pelo menos, todos esperamos que o seja. Talvez, como primeira suposição, a conotação público pese como algo depreciativo, do qual se queira afastar, mesmo que inconscientemente. Afinal, de modo geral, estamos bem distantes da qualidade do serviço público de países mais desenvolvidos. Temos que nos puxar e , depois de um pouco de reflexão, talvez a rede sendo pública (junto com APIs) possa promover a integração e minimizar a problemática dos silos de soluções setoriais na Administração Municipal.
    (ii) Outra possibilidade, a solução está sendo reservada e pensada para ser utilizada como moeda de troca. Posso estar redondamente enganado, mas – “sincericídio”, prezo pela minha autenticidade – vejo como “ouro de tolo”. Digo isto por quê: caso se disponha de um projeto já amadurecido, todos os astros apontam para adotar uma infraestrutura de conectividade que garanta confiabilidade e disponibilidade. Disse o milagre e, portanto, vou dar o nome do Santo: ATC-EveryNet.
    Já pra promover e fomentar experimentações e estudos seria uma “mão na roda” dispor de uma rede com conectividade LoRaWAN aberta, a disposição da comunidade e, não menos importante, capaz de justificar o investimento público realizado. O risco que se corre é a tecnologia cair na graça do povo e a força da comunidade vir a superar ou se equiparar a iniciativa privativa, tal como em algumas cidades europeias. Quer uma prova, dê uma olhada na rede comunitária em Barcelona … pasmem, são todos gateways públicos. Os norte-americanos optaram por uma saída sui generis: Helium (HNT) e Amazon SideWalk.
    Gente … há um esforço , objetivando a inclusão digital, de disponibilizar Wi-Fi (acesso à Internet) em locais públicos. Por coerência e similaridade, qual a diferença de se adotar a mesma postura com relação à LoRa&LoRaWAN? De modo a impulsionar a criatividade, inovação e negócios com a inserção de “coisas” na Internet é preciso dispor de conectividade.
    (iii) Tudo bem, vamos ler o Termo de Colaboração e o Plano de Trabalho (SICT17/2021, Processo PROA: 21/2500-0000193-0, Número FPE [parceria]: 3264/2021), afinal a transparência governamental existe para consultar e esclarecer. Consta no Plano, Network Server (NS) privado, o que provavelmente causou todo este imbróglio. O entendimento de que um NS – na nuvem – exige um responsável (acesso privado ou restrito) para gerenciá-lo é lógico; no entanto, os usuários beneficiados pelo serviço (dados e conectividade) “para utilização de dispositivos IoT para Cidades Inteligentes”; ao meu ver, poderiam e deveriam contemplar a um público o mais abrangente e inclusivo possível.
    Outro pesar, que perda de oportunidade não ter sido desenvolvido e difundido um material informativo (Meta 3.) sobre o projeto, de modo a disseminar o conhecimento e promover capacitação técnica e tecnológica, em linguagem e contexto próprio para os gestores públicos e integradores IoT nacionais. Dá um baita trabalho, né?! Ou será a avareza do saber? A Université Savoie Mont Blanc o fez e vem se tornando referência sobre LoRaWAN. Em tal situação a bandeira ESG fica desbotada e esfarrapada, já que a contribuição para com a sociedade não precisa estar no papel, mas no prestimoso conteúdo didático que pode perfeitamente ser digital.

    Perdoem-me por correr na veia o velho espírito do radioamadorismo e a filosofia open source (QSL: hodiernamente, os espíritos reinantes são outro$) e, portanto, piamente acreditar no potencial de um comunidade ativa e atuante (capital humano). A impressão é que temos que nos envergonhar por nos importarmos e querer colaborar; no entanto, acho que no âmago estas teimas são decorrentes de orgulho bobo e/ou ego inflado que não levam a nada. Esgoto minhas suposições (é claro, sujeitas a serem consideradas válidas ou não) e encerro aqui minha contribuição sobre este tópico de Internet of Things que, prazerosamente e corriqueiramente, consome tempo de estudo e me induz a corroborar com opiniões construtivas.
    THE END … apenas sussuro “laissez-faire!”

  4. Mario Câmara em 8 de agosto de 2024 às 19:11

    Serra Gaúcha adota sistema avançado de coleta de dados IoT para cidades inteligentes. Fonte: .Inova-RS, publicado em 07/08/2024 às 11h07min.

Deixe um Comentário