Não compre gato por lebre
O título deste artigo seria truque de marketing, mas achei tão meiga a figura que declinei do plano original. Tenho uma gatinha que é uma gracinha e “abobado” do jeito que sou, digo até que ela fala. De fato, pra mim ela fala!
Naturalmente, devo deduzir que minha opinião sofre anomalia; ou seja, é totalmente desprovida das condições normais de temperatura e pressão (CNTP). Papo reto, com relação ao felino, minha análise se passa sob condições ‘especiais’ de trapaça e/ou paixão (C’E’TP). Por favor, memorize a sigla!
Apesar da introdução, este artigo será da categoria tecnologia, hum, mais ou menos. Vamos discorrer sobre algumas panaceias de uma tecnologia associada a IoT (Internet das Coisas) chamada LoRa&LoRaWAN. Tá … o que que é isso? Sem “techniques” é tipo um Wi-Fi poderoso em termos de alcance (distância) e pobre em largura de banda (capacidade de tráfego de dados), destinado a conectar ““qualquer coisa”” que você possa imaginar.
Muito bem, agora vamos aos truques de marketing. Há uma verdadeira fixação pelas dezenas, centenas e milhares como valores de referência. Vejamos!
- Durabilidade de tempo de bateria dos dispositivos de até 10 anos. É surreal isso! Sabe aquele equipamento no fundo da gaveta, faz três anos, que você esqueceu de tirar a pilha que exsudou e fez aquela cacaca. Desculpa, não consigo imaginar alimentar por uma década, nem mesmo um microcontrolador, tão somente, hibernando. Tudo bem, consideremos que o danado só acorde uma vez por mês; mesmo assim, há de se computar o consumo de energia dos sensores e/ou atuadores, afinal esta “coisa” tem que fazer alguma coisa, além de dormir. Bem, para apregoar dez anos de energia, só se for uma bateria especial da NASA.
- Até 10.000 dispositivos por gateway (GW). Muita calma nessa hora, vamos visualizar juntos um laboratório com 10.000 “coisas”, 10.000 baterias, 10.000 antenas, 10.000 sensores/atuadores, que aberração linda de se ver! Esse magnífico número cabalístico surgiu de um simulador em C’E’TP, lembra-se da sigla. Provavelmente, este “generoso” simulador desconsiderou as mazelas do mundo real: interferência espectral; colisão de pacotes (se bobear, foi implementado até o LBT – listen before talk – presente em raros dispositivos); sem downstream (que degrada a eficiência da rede); pacotes curtos e esparsos (obedecendo ao duty cycle); utilização da totalidade do espectro (dos [(64+8) up +8 down] canais disponíveis, comumente, utiliza-se apenas 8 canais pelos gateways usuais); e subterfúgios mais. Apelando assim, é claro, a conta chega aos milhares! Deixando de lado o otimismo do simulador, prefiro apostar no meu chute que considera mais viável 10% deste número; o que já seria formidável para um gateway de 8 canais.
- Alcance de até 100 km de distância. Tudo é possível e dane-se a curvatura da terra; não é à toa termos tantos “terraplanistas” vagando por aí. Simples assim: coloca-se o dispositivo num balão, carrega junto uma antena de alto ganho e dá um empurrão na potência. Voilà … não vou nem me alongar mais, senão chego na órbita satelital. Na real, entre 2 e 5,9999 Km, mais do que isto é “sorte”. Só pra constar, por conta da curvatura da terra, 50 Km é um limite a ser considerado.
É muito bom saber que a tecnologia está aí, firme e forte; mas arrasta consigo um marketing cheio de truques agressivos e propagandas levianas, na medida que não esclarecem as C’E’TP que forjam resultados completamente fora da curva de normalidade. Concluindo, na minha obtusa e desumilde opinião, a minha gatinha Chochonha fala, só não acredita quem não quer ouvi-la.
“Aquele que vende muito gato por lebre, quando tiver lebre para vender, não encontrará comprador.”